
Lixo da China, Venezuela e até dos Emirados Árabes são encontrados em praia do ES
Estado capixaba, que já tem a segunda cidade brasileira com maior poluição por microplástico, agora registrou também lixo internacional nas areias da Praia de Guriri, no Norte do estado.

José Luiz Zouain, amigo de Lucas Knupp, ajudou na coleta do lixo da areia — Foto: Lucas Knupp / Arquivo pessoal
O que era para ser uma caminhada tranquila em um momento de folga durante o feriado de carnaval acabou se tornando uma missão de cuidado — e surpresa — com o meio ambiente para dois amigos visitantes da Praia do Bosque, em Guriri, na cidade de São Mateus, na Região Norte do Espírito Santo. Durante o passeio, eles encontraram, jogados na areia, lixos de vários países.
Na última terça-feira (4), o fotógrafo e ambientalista Lucas Knupp caminhava pelo balneário com o amigo José Luiz Zouain, quando notou os materiais carregados pela maré até a praia.
Entre os itens “tradicionais” descartados de forma irregular à beira-mar, como latas de cerveja e restos de redes de pesca, eles encontraram até resíduos de países como China, Venezuela e Emirados Árabes Unidos, o que chamou a atenção dos visitantes, afinal são países que têm distância superior a 14 mil quilômetros do solo capixaba.
“Fomos fazer uma caminhada no final da tarde e começamos a achar muito lixo. A maré do mar subiu mais cedo e encontramos frascos de óleo de motor, óleo de cozinha, material de pesca, como redes e linhas de nylon, e muito mais elementos”, lembrou Lucas.
Natural de Manhuaçu, em Minas Gerais, o ambientalista contou que vive no Espírito Santo há pouco mais de cinco anos e que, infelizmente, o encontro de materiais descartados de forma irregular não é novidade nas praias capixabas.
“O local onde achei o lixo em Guriri, inclusive, é uma área de desova de tartarugas marinhas. Vi várias placas do Projeto Tamar por ali. E, no meio disso, ainda encontramos pneus e outros resíduos”.

Rótulo da garrafa mostra material foi fabricado nos Emirados Árabes Unidos — Foto: Lucas Knupp / Arquivo pessoal
Segundo Lucas, as embalagens plásticas são novas, o que o leva a crer que os materiais foram descartados há pouco tempo por navios que transitam pelo mar brasileiro.
“Há dez meses, eu visitei a Ilha de Trindade, que fica a mais de mil quilômetros de Vitória. Por lá, encontrei o mesmo tipo de lixo carregado por correntes marinhas. Tudo isso, possivelmente, foi descartado de grandes navios e até de pequenos barcos de pesca que também descartam óleo de motor e os resíduos das redes de pesca”, detalha.
Na ilha brasileira mais distante do continente, Lucas também encontrou uma espécie de rocha formada por microplásticos. Uma pesquisa feita na ilha identificou que rochas antes só compostas por substâncias naturais como minerais, estavam sendo geradas pela poluição marinha, compostas principalmente por plástico.
Já na caminhada em Guriri, ele contou que reuniu cerca de 70 quilos de lixo em uma faixa de dois quilômetros de areia.
“Hoje, eu vivo em Colatina, mas já morei em Vila Velha e costumo visitar várias praias de Guarapari, por exemplo. Sempre encontrei lixo, porém, lixo internacional é a primeira vez”.

Lixo da China, Venezuela e até dos Emirados Árabes são encontrados em praia do Espírito Santo — Foto: Lucas Knupp
Cenário nacional é crítico
O lixo encontrado por Lucas na praia capixaba reflete um cenário que já é visto de maneira constante em outros estados litorâneos brasileiros. Em setembro, um estudo divulgado pela Expedição Ondas Limpas na Estrada mostrou que 91% dos resíduos encontrados em 306 praias do país são plásticos.
Deste número, 61% são plásticos de uso único, de itens como copos e garrafas descartáveis e embalagens não reutilizáveis; 22% são fragmentos de plásticos de brinquedos e utensílios domésticos, chamados de itens de vida longa; já 17% são de apetrechos de pesca, como as linhas de nylon das redes, também encontradas pelo fotógrafo e ambientalista em Guriri.
Segundo o estudo, entre os 17 estados banhados pelo Oceano Atlântico, o Espírito Santo é o 10º com mais microplástico em suas praias, sendo que Conceição da Barra, também no Norte capixaba, está entre as cidades com mais resíduos por metro quadrado.

Praia do Bosque, em Guriri (São Mateus), onde resíduos internacionais foram encontrados — Foto: Lucas Knupp / Arquivo pessoal
Em relação aos materiais oriundos de outros países, estudos similares mostram que as praias brasileiras têm sido cada vez mais afetadas com o que chega junto das correntes marítimas. Em São Paulo, por exemplo, a quantidade de lixo internacional nas praias aumentou 500% em cinco anos, segundo um levantamento da ONG Ecologia em Movimento.
“É uma prática criminosa que deve ser investigada, já que há uma tendência de aumento desse descarte irregular em alto-mar”, pondera Lucas, que ainda busca meios para descartar o material encontrado na caminhada da maneira correta.