Derretimento de gelo revela floresta milenar “enterrada”
Pesquisadores encontraram mais de 30 árvores que teriam se formado há cerca de seis mil anos no Planalto Beartooth, em Wyoming, nos Estados Unidos.

Cientistas da Universidade Estadual de Montana (MSU), nos Estados Unidos, descobriram uma floresta milenar de pinheiros de casca branca que estava “soterrada” por gelo alpino, nas Montanhas Rochosas, cordilheira localizada na América do Norte, entre as províncias de Colúmbia Britânica e Alberta, no Canadá, e os estados de Idaho, Montana, Wyoming, Colorado e Novo México, nos EUA.
Os pesquisadores encontraram mais de 30 árvores aproximadamente 3.100 metros acima do nível do mar enquanto realizavam uma pesquisa arqueológica no Planalto Beartooth, em Wyoming. Eles estimam que a floresta se formou há cerca de seis mil anos. A descoberta foi descrita em artigo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, no final de dezembro.
Segundo os pesquisadores, a floresta prosperou por séculos até que o clima começou a esfriar, há cerca de 5.500 anos, devido ao declínio da radiação solar no verão. As temperaturas mais frias deslocaram a linha de árvores para baixo e transformaram a paisagem da alta montanha de floresta para a tundra [bioma em que predomina o frio extremo] alpina que existe hoje.
Além disso, segundo David McWethy, um dos autores do estudo e professor associado do Departamento de Ciências da Terra na Faculdade de Letras e Ciências da MSU, a atividade vulcânica subsequente no Hemisfério Norte fez com que as temperaturas já frias da região caíssem. A floresta de pinheiros foi, então, rapidamente envolta de gelo. No entanto, com o aquecimento da região nos últimos anos, a mancha de gelo começou a derreter, permitindo que os primeiros sinais da floresta milenar fossem descobertas.

Um subfóssil de pinheiro de casca branca revelado abaixo de uma mancha de gelo derretido na região de Yellowstone indica que uma floresta madura cresceu acima da linha atual das árvores há cerca de 6.000 anos, quando as temperaturas eram semelhantes às condições do século 20 e mais frias do que as atuais • Daniel Stahle/Montana State University/Reprodução
“Esta é uma evidência bastante dramática de mudança de ecossistema devido ao aquecimento da temperatura”, afirma McWethy em comunicado. “É uma história incrível de quão dinâmicos esses sistemas são.”
Segundo os autores do artigo, as manchas de gelo, diferentemente das geleiras, não fluem e acumulam gelo de forma lenta e quase contínua, “permitindo a preservação de materiais depositados, como pólen, carvão e macrofósseis dentro de suas camadas congeladas”.
Para conseguir entender a história da floresta congelada, os pesquisadores precisaram estudar vários elementos do antigo ecossistema. Eles analisaram camadas de isótopos de água e materiais orgânicos em núcleos de gelo retirados de uma área e colheram seções transversais de madeira das árvores antigas para datação por radiocarbono.
Segundo Greg Pederson, paleoclimatologista do Northern Rocky Mountain Science Center do US Geological Survey e principal autor do artigo recém-publicado, o trabalho provou que a linha de árvores do planalto mudou para cima em resposta ao aquecimento regional e que a floresta prosperou por 500 anos enquanto as condições climáticas permaneceram moderadas e úmidas.
“O planalto parece ter sido o lugar perfeito para permitir que manchas de gelo se estabelecessem e persistissem por milhares de anos, registrando informações importantes sobre o clima passado, a atividade humana e as mudanças ambientais”, afirma Pederson.
Essas mudanças terão implicações significativas para o futuro ecossistema, de acordo com os autores. Eles afirmam que menos neve em altitudes elevadas poderia afetar o abastecimento de água para irrigação e geração de eletricidade. McWethy acrescentou que se as florestas começarem a se estabelecer na tundra, as condições de combustível podem mudar drasticamente, aumentando potencialmente o risco de incêndios florestais.
“É por isso que estudos de mudanças ecológicas passadas são mais do que peças interessantes de ciência”, diz Pederson. “Eles têm implicações muito maiores para os recursos dos quais todos dependemos.”
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